As barragens, todas elas, em qualquer lugar do mundo, são obras que, por mais seguras que sejam, continuamente preservam um latente potencial de risco. Podem ser barragens construídas apenas para armazenamento e abastecimento de água; podem ser aquelas das pequenas, médias ou grandes hidrelétricas. Nenhuma dispensa operações radicais de monitoramento.Orós, na época de JK, foi considerada segura. Um dia extravasou. E as consequências foram catastróficas. A barragem da usina hidrelétrica de Campos Novos, no rio Canoas (SC), foi bem construída. Um trabalho considerado de primeiro nível, da engenharia brasileira. Erosão no fundo da estrutura provocou o esvaziamento do reservatório e houve necessidade de outro difícil trabalho de engenharia para refazê-la. Os exemplos são numerosos. Agora, chegou a vez da barragem Algodões 1, no Piauí, cujo rompimento é atribuído ao excesso de chuva. Há mortos e desaparecidos. Em poucos instantes, casas foram levadas. E não somente as casas. Sumiram na caudal os objetos miúdos da sobrevivência. Os gêneros de primeira necessidade e os tarecos com que é costurado o viver cotidiano. Árvores foram arrastadas. E, quando as águas baixaram, a visão era de que se voltava a um mundo primitivo. A culpa recairá inapelavelmente sobre o projetista da obra. Mas, em tragédias desse tipo, a culpa não é apenas de um; é de muitos. No geral, as barragens requerem um trabalho persistente de monitoramento. Um monitoramento não para avisar que elas vão se romper, mas para prevenir o rompimento e as consequências futuras ocasionadas pelos estragos. O governo federal tem no Ministério de Integração Regional, órgão específico para “orientar e priorizar as intervenções preventivas”. O que é necessário saber é se, a partir desse órgão – ou fora dele - as barragens brasileiras estão sendo monitoradas. Mas, monitoradas antes mesmo que elas “alertem” sobre a situação de risco. Porque elas “alertam”. Os fiscais têm condições de avaliar, séculos antes da ocorrência, se elas apresentam fissuras; se as fissuras acontecem em ponto de maior vulnerabilidade; se a altura do maciço está nos patamares especificados; se a capacidade do reservatório está nos níveis toleráveis. Enfim, prevenção. O lamentável, entre nós, é que a palavra PREVENÇÃO é alguma coisa escondida, dissimulada. Uma palavra envergonhada perdida no meio do dicionário. Para vergonha do País.
Fonte: O empreiteiro
Fonte: O empreiteiro
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