CHUVA E SONHO NO SERTÃO

(Cordel de Tony Morais)

O poeta popular,

Ao amanhecer o dia,

Vê nas gotas de orvalho

Um tema pra poesia.

Dedilhando o violão,

Plangente, o seu coração

Pulsa no tom da alegria.

Eu, que recebi o dom

De cantar pra minha gente,

Quero expressar aqui

O sonho que surge ardente

Quando a boa chuva cai

Pela graça do bom Pai,

Nosso Deus Onipotente.

Gosto do interior,

Cheiro de terra molhada,

Tirando a fruta do pé,

No meio da invernada.

Abelha fazendo o mel,

A lua a brilhar no céu,

Encantando a namorada.

Por isso prefiro o campo

Ao frenesi da cidade.

É no sertão que eu sinto

Prazer e tranquilidade.

Por isso, de um modo terno,

Saúdo aqui o inverno

Com imensa felicidade.

A água que vem de cima

Emana do criador,

Incentiva o sementeiro.

A semear com vigor.

Adeus, seca inclemente,

Que amarga tanto a gente,

Semeando luto e dor.

A chegada do inverno

É sinônimo de riqueza:

A sangria dos açudes,

O rio com correnteza,

O desabrochar das flores,

As juras de mil amores

E as cores da natureza.

Refrão

Se a chuva cai no sertão,

A natureza faz festa.

A flora fica mais verde,

A fauna se manifesta.

As aves, em sinfonia,

Na mais perfeita harmonia,

Animam toda a floresta.

O agricultor decide

Que é hora de plantar:

Lança a semente no chão,

Preparando o seu pomar.

Caboclo forte roceiro

Segue todo prazenteiro,

A roçar e a capinar.

Com a terra toda molhada,

Há o sonho da fartura.

Renasce logo a esperança

De excelente ventura.

O camponês agradece

E a Deus faz uma prece,

Porque findou-se a amargura.

Se a chuva não rega a terra,

Falta comida na mesa.

Nota-se em cada rosto,

O sofrimento, a tristeza.

O sertanejo lamenta,

Atravessando a tormenta

De dor e tanta incerteza.

Que seja, pois, concluída

Logo a transposição

Do Velho Chico, um sonho

De nossa população.

Quando essa obra findar,

Irá beneficiar

O povo do meu sertão.

Sou honesto em proclamar:

Viva o homem nordestino!

Sua sina é trabalhar,

A seca é seu desatino.

Braço firme, pulso forte,

Não temendo nem a morte,

Nas calhas do seu destino.

O Brasil sente orgulho,

Do nordeste brasileiro.

Apesar das diferenças,

É um país alvissareiro.

Na cultura tem história,

Encravada na memória,

De um povo amigo e trigueiro.

FIM..